terça-feira, 1 de junho de 2010

Para a Ísis

Recordo-me como se fosse hoje... a primeira vez que entraste naquela que seria a tua casa. Eu, na altura com 10 anos de idade enchi-me de alegria. A minha querida mamã tinha-me feito a vontade. Uma cadelinha. Cocker Spaniel. De uma cor não muito vista. Preta e branca. Linda. Pequenina. Enérgica. Cheia de VIDA! Os primeiros dias não foram fáceis. Nem para ti, nem para nós. Tinhas saído de perto da tua mamã para vires preencher o nosso lar. Aquele onde serias feliz. Onde fizémos tudo por tudo para que fizesses parte da nossa família. Muitos não compreenderão o que estou a dizer. Só quem tem animais (e gosta deles como se de um ente querido se tratasse) é que sabe do que falo. Para quê receber-te na nossa casa se fosse para te tratar mal? Não. Nas primeiras noites arranjámos-te um rádio que tocava toda a noite só para que não te sentisses sozinha. Eu, arranjei-te um peluche (um Panda enorme, maior que tu) para te fazer companhia. Assim tu dormias. Assim não choravas. E assim te foste habituando às tuas novas rotinas. A nós. Ias de férias connosco. Andavas de carro e era uma loucura enquanto este não arrancava. A praia... ah a praia... que saudades ver-te minha pequena foquinha preta. De foçinhito de fora de água. Tirar-te de lá era díficil... pelo menos enquanto lá estivesse um de nós os três. Tinhas de nos salvar. Daí só saíres quando nós também o fizéssemos. Muitas noites dormiste na minha cama. Na dos donos grandes não tinhas permissão. Eu deixava. Aquecias-me os pés. Ressonavas. Muito. Os anos passaram e eu também fui crescendo. Nos meus passeios contigo pela rua despertei o interesse daquele que é hoje o meu marido e pai da Nôno. Que tu tanto gostavas, mas não o demonstravas facilmente. Mas eu sei que tu sabias que a Nôno também era tua um bocadinho. Ela sim... gostava de ti. Da "Jíjis" como ela te chamava. E dava-te beijinhos e abraçinhos. E muitas festinhas. O Luís (meu marido) deixava-te bolinhos, queijo, e outras coisas que tais na porta de casa dele enquanto eu subia contigo no elevador à noitinha (eramos vizinhos). Quando ele se mudou, continuaste a ir durante umas semanas à procura dos miminhos que ele te deixava... mas já nao estava lá nada. Gostavas dele. Eu adorava-te. A dona grande também....mas de quem mais gostavas era do dono. Esse detinha a tua predilecção. E assim foi até há duas semanas. Altura em que o cancro te venceu. Não foi preciso tomar a díficil decisão de te mandar abater. A tua hora tinha chegado. Dia 20. 00h18. O dia parecia estar a adivinhar um desfecho daqueles. Tal como me contou a tua dona grande. Eu já não assisti. E ainda bem. Não me queria despedir de ti. Foste morrer ao quarto dos donos... morreste ao lado deles. Ainda tiveste direito a receber os últimos miminhos deles. Foste feliz, tenho a certeza. Hoje farias 15 anos. No dia da criança. Não os chegaste a completar. Resta-nos a saudade que sentimos de ti.